Romantismo e uma leitura poética do movimento

 A história de maneira geral ocorre a partir de mudanças, sejam elas boas ou ruins, porque revoluções, guerras e conflitos mexem diretamente nas bases e o todo é afetado. Momentos de crise precedem momentos gloriosos da vida humana, pois são esses fatos que trazem reflexão, novos caminhos, novos olhares, direitos, etc. O ser humano vive em constante renovação e ressignificação pessoal. Partindo deste, é possível iniciar o estudo do Romantismo a partir dê três características principais: Subjetividade, busca pelo eu poético e fuga da realidade. O romantismo surgiu na Europa no século XVIII, na arte surgiu apenas no século XIX, tendo como principais protagonistas a Alemanha, França e Inglaterra. O movimento surgiu como uma resposta aos diversos conflitos que estavam ocorrendo na época, ligados a revolução industrial e as jornadas exaustivas de trabalho, a revolução francesa eclodindo e alguns outros problemas de cunho social. Mas por ter surgido nesse contexto, o movimento não pode e não será apreendido e captado em sua forma substancial. GUINSBURG:

“O que é o Romantismo? Uma escola, uma tendência, uma forma, um fenômeno histórico, um estado de espírito? Provavelmente tudo isto junto e cada item separado. Ele pode apresentar-se como uma dentre uma série de denominações (...) Ela não é apenas uma configuração estilística ou, como querem alguns, uma das duas modalidades polares e antitéticas – Classicismo e Romantismo – de todo o fazer artístico do espírito humano. Mas é também uma escola historicamente definida, que surgiu num dado momento, em condições concretas e com respostas características à situação que se lhe apresentou” (GUINSBURG 1985; pág. 13-14)
Criar livremente sem as amarras da técnica e do academicismo foram pautas apresentadas pelos artistas, porque parte deles não era aceito no meio artístico por não se encaixarem no padrão neoclássico. Além disso, havia uma grande necessidade de romantizar a vida, partindo do ponto em que apesar dos problemas, o ser humano poderia e deveria refugiar-se nas artes, expressando assim seus desejos, emoções, anseios e tudo o que fosse íntimo ao ser e ao ato de fazer, foram os primeiros passos para a poética do eu com a intenção de se redescobrir. O povo precisava de algo que mostrasse que havia esperança, liberdade e fraternidade na sociedade, algo que mostrasse que apesar dos pesares a vida conseguia bastar, os sentimentos podiam levar além, a sentimentalidade seria capaz de justificar o real e assim tentaram adentrar o mundo do que é fazer arte. O anseio pela liberdade do fazer, do pensar e do sentir deram lugar ao novo modo de ver o mundo, além de ser uma resposta ao racionalismo extremo do século XVII que foi alicerçado em leis naturais da física, o que contribuiu para o fim do brilho, mistério e encantamento em relação a vida, afinal de contas, todas as explicações não passariam de números e teorias rígidas. A reação a este estado de coisas, a busca pelo aspecto mais humano e cálido obnubilado pelo sisudo homem mecanicista, abriu portas para uma nova forma de sensação que definiu o modo de sentir do novo homem em gestação, o homem romântico, ainda, não totalmente romântico, mas, préromântico. O espírito da época bandeou-se para o outro extremo do pêndulo – do domínio da fria razão ao domínio do esfuziante sentimentalismo (SHEEN, 1960: 33) A partir do autor Johann Wolfgang von Goethe e sua ilustre obra “Os sofrimentos do Jovem Werther", é possível imaginar e até sentir o que se passava no imaginário da época, o livro traz consigo uma verdadeira romantização do sofrimento ligado a mente, pois o jovem Werther vai em busca do absoluto através de suas próprias experiências e vivências íntimas neste mundo, através do amor à natureza, ele buscava ansiosamente por algo que o fizesse sentir a vida, que o fizesse entender a própria existência. O livro narra a história de Werther, que está apaixonado por uma jovem comprometida. É um amor impossível e ele sabe, isso acaba corroendo o personagem, pois faz com que ele se questione em todos os sentidos e no fim ela não aguenta saber que jamais terá sua amada, o que faz com que ele se suicide com um tiro na cabeça. Goethe estava perdidamente apaixonado por Carlota (Charlotte), mulher de Johann Kestner quando escreveu a obra e é possível observar alguns pontos que faziam parte da realidade do autor, é quase uma obra autobiográfica ligada a uma de suas paixões. A obra pôde provar como a literatura/arte tem o poder de agir na sociedade. Não foram poucos os suicídios atribuídos ao romance. Nas artes visuais, podemos analisar A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix (1789-1863), obra impar no seu tempo, pintura que retrata a Revolução Francesa(1830), onde buscavam derrubar o absolutismo, importante acontecimento histórico ocorrido na França no mesmo ano em que ele realizou a obra. A pintura é uma releitura moderna dos ideais clássicos e por esse motivo chocou a sociedade. As cores predominantes são o azul, vermelho e branco, cores da bandeira da França, tendo como característica o enaltecimento da pátria. Delacroix tentou captar a atmosfera da guerra urbana. O pintor francês uniu a expressividade do romantismo com certa atenção característica do realismo, fornecendo emoção e envolvimento, sem necessariamente apagar detalhes do contexto histórico. Ele usou a técnica chiaroscuro nas áreas sombreadas para dramatizar a cena, além de contrastar luz e sombra, combinar e usar cores que até então não eram usadas. O trabalho La Liberté guidant le peuple, pertencente ao período do Romantismo, é um óleo sobre tela.

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